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Novela Corazonista
23/03/2021 - Novela Corazonista
Compartilho um documento de extrema importância que encontrei ao acaso no porão da Casa Geral. Mesmo os Irmãos que lá viviam, desconheciam a existência do mesmo. É conhecida entre nós a história de como o nosso cofundador, Irmão Policarpo, foi preso ao ser confundido com um possível malfeitor disfarçado de Frei. Este documento que te apresento revela como a divina providência soube usar deste episódio para um bem maior. Trata-se de um relato incrível e emocionante.  Segue na íntegra.
 
Era o ano de 1830. O navio acabava de sair carregado do porto do Congo. A mercadoria estava destinada ao novo mundo. Um dos imediatos da enorme embarcação, ha muito quebrava a cabeça com um trecho do Evangelho lido para ele por um amigo Jesuíta. Tratava-se de uma passagem onde Cristo afirmava que seremos recompensados por tudo aquilo que fizermos às ocultas por aqueles que nunca serão capazes de nos pagar pelo obséquio prestado.

Certa noite, lá pelo terceiro ou quarto dia de viagem, decidiu dar uma volta pelo convés. Estava sem sono. Sabia pela posição das estrelas que o sol surgiria depois de três horas. Mesmo ali se questionava sobre como obter os favores de Deus, já que tinha a consciência pesada pelo que havia feito ao seu irmão após se deixar levar pela paixão de uma tola discussão banhada a muita bebida. De repente intuiu que a resposta para sua indagação estava bem debaixo de seus pés. Tudo o que precisava fazer era deixar escapar alguma das aquisições que seriam revendidas na América. Algumas perdas já eram previsíveis de qualquer forma, já que nem todas aguentavam a longa viagem.

Descendo até o imenso pavimento inferior da embarcação, pôde sentir um insuportável odor, tão característico naquele ambiente, onde se misturavam o cheiro de fezes, urina, vômitos e restos de comida podre. Com sua lamparina procurou qual deles ganhariam a chance de escapar de uma longa viagem a terras distantes. Chamou sua atenção um casal que se mantinham abraçados. Liberando-os de suas correntes, os guiou silenciosamente até um pequeno bote no pavimento superior. Entregou-lhes um bocado de alimento e um pouco de água e os lançou ao mar. O navegante tinha agora um sorriso no rosto. Havia ajudado quem nunca poderia ser capaz de retribuir o favor. Mas não era essa a sensação do casal, que sem nada entender daquele gesto, acreditavam terem sido abandonados à própria sorte no meio do mar infinito. E eles não estavam errados ao pensarem assim.

Como um insignificante ponto em meio à imensidão do mar, eles nada podiam fazer além de se deixarem guiar ao sabor do vento e da maré. Apesar da grande fome, racionavam a comida e a bebida. Durante o dia, deitavam no pequeno barco e se cobriam com os trapos que traziam em seus corpos para se protegerem do sol. Quando a comida e a água acabaram e seu final parecia agora próximo, viram o tempo virar para a chuva. O céu escuro não os amedrontava e nem os raios e trovões ao longe pareciam assustá-los. Quando a chuva começou a cair, abriram seus braços, deixando que aquelas águas banhassem seus corpos, e renovassem suas esperanças conforme ia também entrando em seus lábios já secos. Os peixes começaram a saltar para fora da água e um deles caiu dentro de seu pequeno barco. E assim, já tinham com que matar a fome.

Ao amanhecer do dia seguinte, foram despertos por uma pequena pancada em seu barco. Perceberam que estavam em terra firme. Uma mulher os assistia. Uma negra vestida como uma imponente rainha africana. Ela falava seu idioma e ofereceu-lhes pão, frutas e água fresca. Era apenas um pouco, mas fez com que se sentissem revigorados como nunca. Ela então os guiou pelas regiões montanhosas, dizendo levá-los até um destino seguro para eles. Teriam de caminhar muito, durante dias. Paravam apenas para descansar e se alimentar de frutas e raízes que aquela senhora ia apontando como comestíveis naquele novo ambiente. Quando a sede vinha forte, lá estava um pequeno córrego ou nascente. Cerca de uma semana depois, a senhora os deixou em um pequeno vilarejo chamado Condat. Eles se sentaram debaixo de uma árvore e adormeceram. Não tinham conversado muito pelo caminho. A senhora nada disse sobre quem ela era, mesmo que tivessem perguntado algumas vezes. Limitava-se a dizer que na hora certa saberiam.

O casal despertou com um guarda apontando uma arma para eles. O homem parecia embriagado e com raiva. Não entendiam nada do que ele dizia. A senhora que os levou até ali, tinha desaparecido. O homem os fez caminhar com a arma em suas costas e os conduziu até uma pequena prisão. Tiveram de dividir cela com outro homem, que usava roupas esquisitas. Uma vestimenta longa e preta que cobria todo o corpo. Não fazia frio, pois era o mês de junho e estavam no verão. Mas tiveram de dormir com inúmeros insetos que os picaram e molestaram à noite toda.

Na manhã seguinte, o casal viu outros homens chegarem ali. Pareciam bravos com o guarda e fizeram com que soltasse seu companheiro de cela. O qual, por sua vez, pareceu ter intercedido em seu favor, já que também eles foram libertos e levados de carruagem para outra cidade. Foram cerca de um dia e meio de viagem até Lyon. O homem de roupas estranhas os levou para um campo onde teriam de plantar e cultivar a terra. Talvez fosse esse o trabalho que teriam de fazer nas terras a que estavam destinados ao saírem da África. Mas naquele local, não tinham nenhuma corrente, nenhum castigo e, ao que tudo indicava, podiam ficar com o que colhessem e vender o excedente para sanarem outras necessidades. O homem que os levou até ali, se encarregou de ensiná-los seu idioma. E assim tornavam-se cada vez mais autossuficiente conforme dominavam a língua.

O casal aprendeu que seu benfeitor se chamava Policarpo Gondre. Ele era Frei e também Professor. No dia em que se conheceram, tinha sido preso após sentar-se debaixo de uma árvore para descansar de uma longa viagem a pé. O carcereiro tinha imaginado tratar-se de um bandido disfarçado de Frei. Ayo e Jawari riram dessa história, pois foram apanhados debaixo da mesma árvore e pelo mesmo guarda. Certo dia, Policarpo os levou para conhecer algumas das peculiaridades da cidade onde agora viviam. Visitando a basílica de Nossa Senhora de Fourvière, não puderam esconder a surpresa ao verem em destaque sobre um altar, a imagem da senhora negra que os ajudou quando chegaram naquele país. A partir daquele dia, sempre que ao longe ouviam o sino da Igreja soar doze badaladas, paravam seu trabalho no campo e rezavam a oração do Ângelus, ensinada a eles pelo Frei amigo. Em seguida iam juntos prepararem o almoço. De vez em quando Policarpo aparecia para almoçar com eles. E em alguns finais de semana, quando se encontrava na cidade, o Frei os recebia para o almoço. Essa amizade durou até o inverno do dia nove de janeiro de 1859, quando Frei Policarpo faleceu. Mas a sensação de perda logo foi substituída pela certeza de terem ganhado um intercessor.
 
É com este estimulante documento que concluo esta peregrinação, ou pequena viagem, se preferir assim. Despeço-me, contudo, deixando duas orações que passei a fazer diariamente. Uma delas visa pedir a Beatificação do Irmão Policarpo que, como vimos, foi um dos instrumentos de que Nossa Senhora de Fourvière se serviu para auxiliar seus filhos Ayo e Jawari. A outra devoção sempre a pratico após a leitura e meditação do evangelho do dia. Trata-se do Ângelus. Oração feita com muito carinho e devoção pelo casal cuja aventura nos foi dado a conhecer. No mais, muito obrigado pelo prazer de sua companhia. Deus te abençoe. Com carinho, seu Irmão Paulo Gonsalvez dos Santos, SC.

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