ASPIRANTADO | Irmãos do Sagrado Coração

“Você tem certeza disso?” perguntou dona Maria, olhando para o filho com ternura e um pouco de preocupação.

André sorriu. Não tinha todas as certezas do mundo, mas uma certeza o guiava: precisava descobrir o que Deus queria dele. Não era uma resposta fácil, e ele sabia que não vinha de um dia para o outro. Por isso, aceitou o convite do irmão Gustavo para iniciar o Aspirantado.

“É um tempo de estar junto, sem pressa. É viver o dia a dia, observando, escutando e deixando o coração aprender a caminhar com calma”, explicaram na primeira semana. E assim começou essa nova etapa da sua vida.

A comunidade onde foi acolhido era simples, alegre e cheia de vida. Tudo ali respirava partilha: oração, trabalho, refeições, silêncio, risadas e missão. Os dias eram marcados por gestos pequenos que, pouco a pouco, moldavam o coração.

O objetivo do aspirantado era claro: oferecer aos jovens como ele um ambiente de vivência cristã, que ajudasse no autoconhecimento e no discernimento do chamado. E André logo entendeu que não se tratava apenas de “decidir uma vocação”, mas de viver com verdade, escutando a Deus nas pequenas coisas.

Nos encontros semanais com o formador, conversavam sobre temas importantes: afetividade, relações humanas, liberdade, escolhas, fé, vocação e carisma. Havia espaço para questionar, duvidar, rir e aprender.

Na dimensão humana, ele aprendeu a se conhecer melhor. Enfrentou medos, reviu ideias, escutou histórias dos outros e reconheceu suas próprias fraquezas e dons. A vida comunitária o ajudava a crescer, não dava pra fugir de si mesmo quando se vive com os outros. Os momentos de avaliação, formais ou informais, serviam como espelhos para o crescimento.

Na dimensão espiritual, André foi descobrindo uma nova maneira de rezar. A oração deixou de ser obrigação e virou encontro. Os retiros, os dias de silêncio, as celebrações diárias, tudo isso o fazia experimentar o amor de Deus de maneira mais concreta. Começou a conhecer os fundadores da congregação e a perceber que aquele carisma tinha algo a ver com seu coração.

Mas a fé que se vive apenas entre paredes não floresce. Por isso, a dimensão apostólica o levava para fora: ajudava na catequese da paróquia, participava de grupos de jovens, colaborava com projetos sociais. Nessas experiências, entendeu que seguir Jesus é também se colocar ao lado do povo, lutar por justiça, ter consciência crítica e coração aberto às culturas diferentes.

Nos momentos de formação servia para alimentar o discernimento e tornar a caminhada mais consciente. Participar do Aspirinter, um encontro entre aspirantes de outras comunidades, foi um dos pontos altos, lá, André se sentiu parte de algo maior.

O mais bonito disso tudo? Nada era apressado. Alguns ficavam seis meses. Outros, mais de dois anos. O importante era respeitar o tempo de cada um. Os acompanhamentos pessoais, entrevistas, conversas com os formadores e com a equipe vocacional ajudavam a entender o coração e tomar decisões com liberdade.

Um ano depois, André olhou para trás e se emocionou. Sabia que ainda tinha muito a caminhar. Mas uma coisa era certa: havia crescido como homem, cristão e irmão. Sentia-se mais livre, mais inteiro, mais próximo de Deus.

E, talvez, só talvez… o próximo passo fosse o postulantado.